
Desde a invasão ao Instituto Royal, em São Roque (SP), na semana retrasada, um velho debate voltou à tona no Brasil. Ativistas, personalidades da TV e parlamentares se juntaram a uma turba de vozes das redes sociais para pedir um fim às pesquisas científicas que se utilizam de cobaias animais. Os testes foram tachados de cruéis, desnecessários e antiquados. Pesquisadores brasileiros passaram a ser vistos como monstros sádicos que utilizam procedimentos abandonados no resto do mundo em troca do lucro fácil.
Faltava nessa discussão, no entanto, uma voz importante, os próprios cientistas, entre os
pesquisadores, a opinião é unânime: os bichos são imprescindíveis para
os experimentos. Por isso, são permitidos no mundo todo; e sem eles não
há como desenvolver novos remédios e tratamentos — a ciência médica
poderia decretar falência no país.
“O uso de
animais em experimentos não é opcional. Existem situações em que eles
simplesmente não podem ser substituídos”, diz Silvana Gorniak,
pesquisadora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP que
realiza pesquisas com roedores para estudar o potencial terapêutico e
tóxico de diversas substâncias naturais.
Segundo a cientista, a decisão de usar
bichos em suas pesquisas não é simples — nenhum pesquisador faz isso
porque gosta. Ademais, esse tipo de estudo é muito caro, pois o custo
das cobaias animais eleva em muito o preço dos experimentos. Por isso,
há décadas, laboratórios de todo o mundo procuram por métodos
alternativos. Nos últimos anos surgiram novas técnicas de cultura
celular e modelos de computador, capazes de substituir os animais em
algumas pesquisas, mas não todas. Não há como simular o funcionamento
conjunto de sistemas complexos do corpo, como o circulatório, nervoso e
imunológico. “Como replicar a depressão em uma cultura de células? Não
existem métodos alternativos para testar anticancerígenos, vacinas
contra aids, medicamentos anti-hipertensivos. Para saber se eles
funcionam, precisamos testar em animais”, diz Silvana.
Debate eleitoreiro
Segundo os cientistas, a invasão do Instituto Royal tornou menos saudável a atmosfera em que o debate acontece no país, e cada vez menos racional.
Segundo os cientistas, a invasão do Instituto Royal tornou menos saudável a atmosfera em que o debate acontece no país, e cada vez menos racional.
Não é uma
questão de criticar todas as organizações de defesa dos direitos dos
animais. Segundo Volpato, a ação desses ativistas tem sido,
historicamente, muito importante. “É bom ter alguém olhando e
fiscalizando nosso trabalho. Em função de denúncias desses grupos, já
deixamos muitas práticas para trás, verdadeiras atrocidades deixaram de
ser cometidas e hoje temos uma legislação sobre esse assunto”, diz. “Mas
eu queria saber daqueles que querem banir totalmente as pesquisas com
animais o que eles diriam para quem tem um parente internado em um
hospital.”
A volta
dessa discussão entre políticos foi ainda mais atribulada e irracional.
Movidos pela poderosa cena do resgate dos beagles, deputados já se
pronunciaram a favor da criação de um CPI para investigar o caso e, quem
sabe, proibir todos os testes com animais. As maiores autoridades no
assunto não podem ficar fora dessa discussão. “Quando o político entra
no debate, ele vem pensando em que posição tomar para ganhar a próxima
eleição, em qual discurso será melhor para ele”, diz Volpato. “Em países
sérios, os políticos ouvem os cientistas envolvidos quando discutem
questões técnicas. Infelizmente no Brasil, a opinião dos cientistas
costuma ser ignorada.”
Por Reinaldo Azevedo
28/10/2013
às 20:23http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/uso-de-animais-em-experimentos-nao-e-opcional-diz-pesquisadora/
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